Por mais incrível que possa parecer, alguns tipos de cânceres contagiosos já foram identificados em determinadas espécies animais. A comunidade científica já identificou 11 tipos de cânceres transmissíveis, sendo oito em moluscos bivalves, como amêijoas, berbigões e mexilhões, dois no diabo-da-tasmânia e outro em cães. Em todos esses casos, os tumores em questão mostraram uma notável capacidade de garantir sua própria sobrevivência e propagação, de acordo com os pesquisadores.
Berbigão (Cerastoderma edule). Crédito da foto |
José Túbio, biólogo espanhol pesquisador membro de um dos principais grupos que estuda esses tipos de casos destaca a maior incidência de câncer transmissível em moluscos, como o berbigão. Apesar de serem considerados saborosos e seguros para o consumo, em uma lata deste molusco, conhecido por suas conchas tradicionais encontradas no mar, podem coexistir diversos exemplares com leucemia. Este câncer não surge individualmente, mas sim, suas células cancerígenas saltam de um berbigão para outro ao longo dos anos no mar.
O grupo de pesquisa de Túbio examinou aproximadamente 7 mil berbigões, revelando que quase 6% deles apresentavam câncer. Esses resultados foram descritos por Tubío como "um choque". A informação genética desses animais normalmente é organizada em pacotes chamados cromossomos, sendo que estes moluscos costumam ter 38 deles por padrão na espécie. No entanto, as células cancerígenas desses berbigões chegam a 350 e estão notavelmente deterioradas. Tubío, intrigado com a instabilidade extrema observada nos cromossomos, questiona como um tumor pode subsistir por milhares de anos com tal caos genômico, chamando isso de um "novo paradigma".
Em relação ao diabo-da-tasmânia, José Tubío e sua equipe identificaram, em 2014, um novo tipo de tumor facial contagioso no animal, além de outro tipo de câncer transmissível já observado quase uma década antes. A descoberta desse segundo tipo sugere que os tumores transferíveis podem ser mais comuns na natureza do que anteriormente presumido. Os diabos-da-Tasmânia transmitem células cancerígenas por contato, especialmente durante brigas ou cópulas. O câncer cresce, deformando o focinho do animal até que ele não consiga se alimentar e, eventualmente, morra.
Diabo-da-Tasmânia |
Tubío e sua equipe também investigaram o tumor venéreo canino, que se espalha durante a cópula e cresce nas áreas genitais. Ele destaca que são células de um cão específico que se tornaram cancerígenas há cerca de 8 mil anos, perpetuando-se e saltando de indivíduo para indivíduo.
E em humanos?
Em situações extremamente excepcionais, o câncer pode exibir características contagiosas, segundo José Tubío. Ele menciona um caso de um cirurgião alemão que, ao retirar um tumor maligno, sofreu um pequeno ferimento na mão esquerda, resultando no crescimento do câncer do paciente no dedo do médico cinco meses depois. No Japão, duas crianças desenvolveram tumores pulmonares originados de células de carcinoma uterino presentes em suas mães durante o parto. A transmissão de câncer de mãe para filho, estimada em uma em cada 500 mil mães com câncer, ocorre através da placenta.
Por: Jonathan Pena Castro
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