Existem plantas albinas?

Você provavelmente já viu um animal albino: um rato branco, com olhos avermelhados. Ou talvez um coelho branco. O albinismo também ocorre nos humanos. Já publicamos um post com outros tantos exemplos incríveis: <10 incríveis animais albinos>.

Mas a questão é: albinismo não é um termo verdadeiramente científico. É um termo coloquial para criaturas sem pigmento. A palavra albino é derivada a partir do latim albus, que significa literalmente “branco” ou “muito claro” e o sufixo diminutivo -ino significa "pequeno". Como tal, aplica-se igualmente a animais e plantas que carecem de cor.

Na foto, exemplar de planta albina adulta, a sequoia, ao lado de folhas convencionais.

Quando os animais não têm cor, isso se deve à ausência de melanina em sua pele e pelos. Quando as plantas carecem de cor, isso se deve à ausência de clorofila. Enquanto a ausência de melanina pode ter impacto na sobrevivência dos animais porque sua coloração branca os torna mais evidentes aos predadores e mais suscetíveis a condições como o câncer de pele, os animais albinos são capazes de sobreviver e são observados esporadicamente na natureza. (Muitos animais brancos vistos na natureza são na verdade leucistas; falta-lhes pigmento em muitos tipos de células, mas geralmente são discerníveis por olhos normalmente coloridos). 

Assim, o fato é: plantas genuinamente albinas na natureza são muito raras e difíceis de sobreviverem até a idade adulta.

Girafa leucista. Créditos foto:Wild Nature Institute/Reprodução

As plantas albinas, sem a clorofila de que necessitam para fabricar seu alimento, geralmente morrem como mudas depois que a energia armazenada na semente é esgotada. Plantas com folhagem verde e branca variegada ou com flores anormalmente brancas não são consideradas albinas; embora sua coloração possa ser atípica para uma determinada espécie, estas plantas são, no entanto, capazes de fotossintetizar normalmente.

Plantas albinas, sem pigmentos fotossintetizantes, geralmente morrem quando ainda são mudas, pois não conseguem fotossintetizar seu alimento. Na foto, muda de milho albina, ao lado de uma convencional.

Em casos raros, as plantas albinas são capazes de sobreviver. Em laboratórios, elas podem ser cultivadas em tamanhos relativamente grandes usando um meio de cultivo que lhes permite absorver os nutrientes que normalmente produziriam em suas folhas através de suas raízes, o que é conhecido desde início do século 20.

Batata doce albina (direita), planta convencional (esquerda). Créditos: Arisha et al 2021.

O albinismo é relativamente comum em plantas cultivadas em laboratório através da embriogênese de micrósporos androgênicos, um processo através do qual os gametas masculinos imaturos são tratados com calor, radiação gama, colchicina ou etanol e induzidos a formar embriões sem a presença de um gameta fêmea correspondente. Este processo é frequentemente utilizado no desenvolvimento de culturas e plantas ornamentais. 

Pensa-se que a causa da alta incidência de plântulas albinas cultivadas a partir de tais gametas tratadas é devido à interferência no desenvolvimento de plastídeos. Em plantas saudáveis, os protoplastos amadurecem em cloroplastos, que potencializam a fotossíntese. Esses protoplastos não amadurecem adequadamente nos albinos. A aparência dos albinos é geralmente vista como uma coisa ruim neste contexto: as plantações de albinos e ornamentais não são viáveis fora de um ambiente de laboratório e são, portanto, inúteis.

Curiosamente, em um dos poucos casos generalizados de albinismo em plantas na natureza, ele pode na verdade ser um mecanismo adaptativo. As árvores sequoias (Sequoia sempervirens), nativas da Califórnia e do Oregon, podem formar um interessante caso de parasitismo, nas quais as sementes são enviadas na base da árvore mãe e crescem com falta parcial ou total de pigmentação nas folhas. Sabe-se da existência de cerca de 230 sequoias com albinismo, indivíduos mutantes que não podem fabricar clorofila e que por isso apresentam folhas esbranquiçadas, mas que ainda assim atingem alturas de até 20 m. Sem capacidade fotossintética própria, estas árvores sobrevivem como plantas parasitas, obtendo alimento enxertando os seus sistemas radiculares com o sistema radicular das árvores normais. Embora mutações semelhantes ocorram esporadicamente em outras coníferas, nenhum caso é conhecido de tais indivíduos sobrevivendo até a maturidade em qualquer outra espécie de coníferas. Resultados de estudos recentes permitem afirmar que sequoias albinas podem armazenar concentrações mais altas de metais tóxicos do que as árvores normais.

Folhagem de um exemplar albino de Sequoia sempervirens exibindo a falta de clorofila.

Como as sequoias têm genomas hexaploides, o que significa que elas têm seis cópias de seu código genético em oposição aos dois em genomas humanos, elas têm uma chance muito maior de exibir mutações. Os metais podem interferir nos processos fotossintéticos normais e, portanto, foi especulado em um estudo da Universidade do Colorado que estas árvores brancas de fato servem como um "fígado" para seus irmãos saudáveis, sequestrando metais em seus tecidos, onde não podem prejudicar seus pais fotossintéticos. Esta pesquisa é um tanto especulativa neste ponto, mas se comprovada, pode ter implicações também para outras espécies de plantas.

O fenômeno também ocorre em algumas espécies de plantas mico-heterotróficas, o que aumenta seus hábitos fotossintéticos com nutrientes produzidos através de uma relação simbiótica com fungos radiculares. Às vezes, as plantas se convertem espontaneamente ao albinismo e sobrevivem unicamente dos nutrientes produzidos por esta relação.

Assim, é muito improvável que você veja uma planta genuinamente albina adulta por aí, apesar dos casos acima mencionados. A maiorias das plantas "brancas" que vemos com frequência podem possuir pigmentos fotossintetizantes, não constituindo-se de plantas verdadeiramente albinas.  

Por: Jonathan Pena Castro

Fontes: Além das citadas no texto, 1, 2, 3