Cookies management by TermsFeed Cookie Consent Conheça o experimento que previu a extinção da humanidade - Como Somos Biologia

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Conheça o experimento que previu a extinção da humanidade

Nos últimos centenas de anos, a população humana da Terra aumentou vertiginosamente, de um bilhão estimado em 1804 para oito bilhões em 2022. Com esse aumento impressionante, uma preocupação é de que essa quantidade possa ultrapassar nossa capacidade de produzir alimentos, resultando em fome generalizada. No entanto, atualmente com as mudanças na agricultura, novas tecnologias agrícolas e melhores práticas nos permitem produzir comida suficiente para 10 bilhões de pessoas. Infelizmente o que faz com que haja ainda fome no mundo é principalmente na desigualdade da distribuição.

Enquanto a escassez de recursos seja um fator preocupante para superpopulações, um pesquisador comportamental na década de 1970 buscava responder a uma questão diferente: o que aconteceria com a sociedade se todas as nossas necessidades e desejos fossem satisfeitos?


Buscando responder essa pergunta, Calhoun, um etólogo (biólogo especialista em comportamento animal) pensou em um experimento envolvendo populações de ratos. Para isso, obteve permissão do seu vizinho para construir um cercado para ratos em uma pequena floresta próxima à sua casa. Esta área de aproximadamente 1 mil metros quadrados foi batizada de “cidade dos ratos” e nele foram adicionadas cinco ratazanas grávidas. Após dois anos de observação, o etólogo ficou surpreso ao constatar que a população de ratos nunca ultrapassou 200, muito embora houvesse espaço e comida suficiente para abrigar no mínimo 1 mil animais. Intrigado, ele repetiu o experimento mais 24 vezes, mas o resultado foi o mesmo.

A utopia dos ratos: universo 25

Em 1954, Calhoun, começou a trabalhar no Laboratório de Psicologia do Instituto Nacional de Saúde Mental, e decidiu realizar o experimento pela 25ª vez, com o objetivo de analisar o comportamento de roedores em um ambiente controlado, sem predadores, esterilizado, livre de doenças, com água, comida e abrigo suficientes. Por isso, ele denominou seu projeto de "utopia dos ratos", pois ele construiria em seu experimento uma estrutura social que os humanos jamais haviam alcançado. A experiência também foi chamada de Universo 25, e para realizá-la, Calhoun ergueu um tanque de 2,7 m², com 1,5 metros de altura e uma temperatura de aproximadamente 20º C, ideal para o desenvolvimento dos ratos. Ele também ofereceu aos roedores 256 abrigos e 16 canaletas, para que pudessem abrigar uma população máxima de 2.200 animais.

Ao início do experimento, quatro pares de camundongos saudáveis foram liberados para que criassem uma nova sociedade. Essa fase foi conhecida como “fase de estrutura” ou “período de luta”, durante a qual os roedores se aclimataram ao seu habitat e construíram seus ninhos em 104 dias. Quando a “fase de exploração” começou, em que os animais se encontravam e acasalavam, a população passou a dobrar de tamanho a cada 55 dias.

(Fonte: NIH/Reprodução)

Um verdadeiro inferno

Após 315 dias de experimento, a utopia de Calhoun havia se transformado em um pequeno inferno. Com uma população de 620 ratos, ele percebeu que os "ratos ômegas" - os mais tímidos e que ocupavam a base da hierarquia - eram rejeitados pelas fêmeas e, por isso, haviam desistido de se acasalar. Eles, então, passaram a se isolar dos demais, vivendo em grupos pequenos e alimentando-se, descansando e, às vezes, brigando entre si. 

Por outro lado, os "machos dominantes" adotaram comportamentos extremamente agressivos, atacando ratos aleatoriamente sem motivo aparente, e alguns tornaram-se homossexuais, pansexuais ou hipersexuais. Eles chegavam a formar grupos que atacavam as fêmeas e cometiam estupros indiscriminadamente. 

Nesses episódios de violência, era comum que alguns ratos acabassem sendo canibalizados, mesmo com a presença de alimentos em abundância. Como os machos não cumpriam mais suas funções, as fêmeas tiveram que assumir o cuidado de seus ninhos, o que as levou a desenvolver um comportamento agressivo, que acabava sendo transferido para os próprios filhotes. 

Essa situação acabou resultando no abandono das ninhadas e na mortalidade de 90%, criando a "fase de estagnação" e que, para Calhoun, refletia o colapso dos papéis sociais e a superpopulação da colônia.

(Fonte: Medicine on Screen/Reprodução)

Uma previsão para sociedade humana?

Após 560 dias de experimento, ficou claro que os roedores haviam perdido completamente sua capacidade de agir como ratos e que a mudança seria permanente. Com uma taxa de mortalidade de 100%, o cientista Calhoun decretou que a colônia entrava na “fase de morte”, o que levaria a sua extinção. 

A geração jovem de ratos cresceu em meio a um ambiente estranho, sem exemplos de comportamento, sem padrões de maternidade e paternidade, sem instruções para acasalamento e marcação de território. Esses ratos, batizados como “belos” pelo cientista, eram caracterizados por uma apatia social, ausência de propósito de vida e reclusão, sendo os responsáveis por ocasionar a “primeira morte” da colônia – o fim do desejo de um futuro. A segunda morte, segundo Calhoun, foi a extinção total do Universo 25. 

Calhoun concluiu que, assim como os humanos, os ratos prosperam em um senso de identidade e propósito estabelecidos dentro do mundo em geral e que o estresse, ansiedade, tensão e instinto de sobrevivência tornam necessário o engajamento na sociedade. Ou seja, a vida precisa ter sentido, e não apenas se apoiar em aspectos básicos, como moradia, água, conforto e comida.


Apesar do grande apoio recebido da comunidade científica, o estudo de Calhoun foi questionado e classificado como perigoso. O médico e historiador Edmund Ramsden afirmou que "os ratos podem sofrer com as aglomerações, mas os seres humanos podem lidar com isso. A decadência moral não é resultado da densidade, mas da interação social excessiva". O médico ainda observou que "nem todos os ratos ficaram furiosos. Aqueles que conseguiram controlar o espaço levaram vidas relativamente normais". 

Em 1972, o conceito de Universo 25 causou um verdadeiro pânico entre os cidadãos dos Estados Unidos, uma vez que as taxas de homicídio aumentaram 135% em relação à década anterior e os índices de densidade populacional nos centros urbanos estouraram.

Esta ideia de um iminente "apocalipse social" em que as pessoas se autodestruiriam fez com que muitos considerassem a possibilidade de migração para os subúrbios ou campos, onde havia mais espaço e uma vida tranquila. 

Seja como for, o experimento de Calhoun entrou para os "Quarenta Estudos que Mudaram a Psicologia" ao lado de Freud e Skinner.


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