Nós humanos somos complexos organismos multicelulares. Temos aproximadamente sessenta trilhões de células em nosso corpo. Quantas precisam morrer para que uma pessoa possa ser considerada morta? Existem células específicas que definem se uma pessoa está viva ou morta?
Os cientistas sabem há muitos anos que as células podem morrer de duas maneiras. A necrose ocorre quando a máquina da célula se rompe com a idade, ou a exposição ao trauma danifica a célula além do reparo. Já a apoptose é um processo programado acionado sob demanda, pelo qual mesmo células saudáveis podem sofrer uma série de mudanças que resultam em uma morte ordenada.
Mas quando se trata da morte de organismos multicelulares, como os humanos, a definição dos mecanismos exatos se torna mais complicada. Isto não pode ser simplesmente explicado por um grupo de células que morrem independentemente. Como definir o momento exato em que um animal deixa de estar vivo e qual é a sequência de eventos que levam à morte?
Para responder a essa pergunta, cientistas conduziram um estudo publicado na revista PLOS Biology, observando um simples verme nematódeo (Caenorhabditis elegans) morrendo sob seu microscópio. Este organismo modelo é fácil de estudar porque é minúsculo, completamente transparente, tem uma vida relativamente curta e seus genes têm sido estudados extensivamentes.
O que os cientistas descobriram foi que sob luz ultravioleta, o intestino de C. elegans emitiria uma luz fluorescente azul quando verme estava prestes a morrer. A luz, denominada pelos pesquisadores de "fluorescência de morte", tornou-se cada vez mais intensa à medida que as células do verme se tornavam necróticas. A luz atingiu sua intensidade máxima no exato momento em que o verme morreu e depois desapareceu rapidamente.
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A descoberta é notável porque a luz azul foi observada tanto para os vermes que morriam de causas naturais como para a morte relacionada ao estresse, como sob calor ou frio extremos. A partir de uma extremidade do verme, a onda de luz azul se propagaria ao longo de seu intestino até sua morte. Esta propagação ordenada sugeria que, entre organismos multicelulares, a morte poderia ocorrer através de uma série de sinais coordenados de "autodestruição".
Os autores do estudo descobriram que a luz azul era causada pela ativação de uma via biológica relacionada à sinalização do cálcio, desencadeando, em última instância, a fluorescência de pequenas moléculas chamadas ácidos antranílicos (AAs). Elas descobriram que a centelha de luz azul não era devida à produção repentina de AAs, mas por causa de sua liberação dos compartimentos celulares ácidos quando as membranas que as mantinham presas quebravam em caso de necrose.
Quando a equipe bloqueou o caminho de sinalização de cálcio, a explosão poderia ser retardada se um estresse fosse a causa da morte. Entretanto, nenhum atraso poderia ser obtido se se tratasse de um caso de morte relacionada à idade. Isto sugere que a morte relacionada à idade envolve mais do que apenas sinalização de cálcio.
O trabalho lança dúvidas sobre a ideia de que a morte relacionada à idade é simplesmente uma consequência de danos acumulados a nível celular. Pode muito bem ser que uma ação coordenada decida quando o limiar é atingido. Mas o fato de que a morte pode agora ser capturada em ação sob um microscópio nos ajudará a desenvolver e compreender métodos para retardá-la. Nesse caso, ver a luz pode ser uma coisa boa no final.
Por: Jonathan Pena Castro
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