Bertha Maria Júlia Lutz (2 de agosto de 1894 - 16 de setembro de 1976) era uma zoóloga, política e diplomata brasileira. Lutz tornou-se uma figura de destaque tanto no movimento feminista pan-americano quanto no movimento de direitos humanos. Ela foi instrumental na conquista do sufrágio feminino no Brasil e representou seu país na Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, assinando seu nome na Carta das Nações Unidas. Além de seu trabalho político, ela foi naturalista no Museu Nacional do Brasil, especializando-se em sapos de dardos venenosos. Ela tem três espécies de sapos e duas espécies de lagartos com o seu nome.
Vida inicial e educação
Bertha Lutz nasceu em São Paulo. Seu pai, Adolfo Lutz (1855-1940), foi um médico e epidemiologista pioneiro de origem suíça, e sua mãe, Amy Marie Gertrude Fowler, era enfermeira britânica. Bertha Lutz estudou ciências naturais, biologia e zoologia na Universidade de Paris - Sorbonne, formando-se em 1918. Logo após a obtenção de seu diploma, ela retornou ao Brasil.
Carreira
Sufrágio da mulher
Em 1919, um ano após retornar ao Brasil, Lutz fundou a Liga pela Emancipação Intelectual das Mulheres e foi nomeada para representar o governo brasileiro no Conselho Internacional Feminino da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Lutz mais tarde criou a Federação Brasileira para o Progresso da Mulher (1922), um grupo político que defendia os direitos da mulher brasileira, mais importante, seu direito de voto, em todo o mundo. Lutz atuou como delegada na Conferência Pan-Americana das Mulheres em Baltimore, Maryland, naquele mesmo ano, e continuaria a participar das conferências sobre os direitos da mulher nos anos seguintes. Em 1925, ela foi eleita presidente da União Interamericana de Mulheres. O envolvimento de Lutz na luta pelo sufrágio feminino fez dela a principal figura de proa dos direitos da mulher até o final de 1931, quando as mulheres brasileiras finalmente ganharam o direito de voto.
Campanha feminista interamericana
A defesa dos direitos das mulheres por Lutz não terminou com o direito de voto, e ela continuou a desempenhar um papel proeminente na campanha feminista. Em 1933, após obter seu diploma de Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Lutz participou e introduziu várias propostas para a equidade de gênero na Conferência Interamericana de Montevidéu, no Uruguai. A mais notável dessas propostas foi seu apelo para a reorientação da Comissão Interamericana de Mulheres sobre a questão da igualdade de gênero no local de trabalho.
Em 1935, Lutz decidiu concorrer ao Congresso Nacional do Brasil e ficou em segundo lugar atrás de Cândido Pessoa, e o substituiu quando morreu um ano depois, fazendo de Lutz uma das poucas congressistas brasileiras da época. A primeira iniciativa que Lutz apresentou enquanto estava no Congresso foi a criação do "Estatuto da Mulher", uma comissão para analisar todas as leis e estatutos brasileiros para garantir que nenhum deles violasse os direitos da mulher.
Lutz, no entanto, não conseguiu levar adiante suas medidas quando Getúlio Vargas foi reintegrado como ditador em 1937, o que levou a uma suspensão do parlamento e do projeto do Estatuto. Lutz, no entanto, continuou sua carreira diplomática. Ela foi uma das quatro mulheres a assinar a Carta das Nações Unidas na Conferência Interamericana de Mulheres realizada em São Francisco em 1945 e foi vice-presidente da Comissão Interamericana de Mulheres de 1953 a 1959.
Carreira científica
Após retornar ao Brasil em 1918, Lutz se dedicou ao estudo dos anfíbios, especialmente rãs de dardos venenosos e sapos da família Hylidae. Em 1919, ela foi contratada pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro. Mais tarde, ela se tornou naturalista na Seção de Botânica. Ao longo de sua vida, Lutz publicou inúmeros estudos e publicações científicas, mais notadamente "Observações sobre a história de vida das rãs brasileiras" (1943), "Um notável coro de rãs no Brasil" (1946), e "Novos sapos da montanha de Itatiaia" (1952). Em 1958, ela descreveu um anfíbio que hoje é conhecido Paratelmatobius lutzii (Lutz e Carvalho, 1958), que é nomeado em homenagem a seu pai.
Lutz é homenageada em nome de duas espécies de lagartos brasileiros, Liolaemus lutzae e Phyllopezus lutzae, assim como três espécies de sapos, Dendropsophus berthalutzae, Megaelosia lutzae, e Scinax berthae.
Conferências políticas
Durante o Congresso Internacional das Mulheres Trabalhadoras de 1919, Lutz defendeu a igualdade entre os sexos e a menção específica das mulheres nas cláusulas que protegem contra injustiças e abusos.
Na Conferência Pan-Americana das Mulheres de 1922, Lutz defendeu a igualdade de direitos e oportunidades das mulheres, com um enfoque especial na inclusão política.
Lutz veio preparada para a Conferência Interamericana de Montevidéu de 1933 com um estudo sobre o status legal da mulher nas Américas e defendeu que a nacionalidade da mulher casada não deveria estar condicionada à de seus maridos. Ela também propôs um tratado de igualdade de direitos e pressionou a Comissão Interamericana de Mulheres a se reorientar e se comprometer novamente a analisar as condições de trabalho das mulheres nas Américas.
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional de 1945 em São Francisco, Lutz, juntamente com Minerva Bernardino, lutou pela inclusão da palavra "mulheres" no preâmbulo da Carta das Nações Unidas. O primeiro rascunho não mencionava a palavra "mulheres", e contra a delegada americana Virginia Gildersleeve e as conselheiras britânicas, Lutz e outras mulheres da América Latina insistiram na leitura da cláusula final: "...fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade da pessoa humana, na igualdade de direitos de homens e mulheres e de nações grandes e pequenas" Ela propôs ainda a criação de uma comissão especial de Mulheres cujo objetivo seria analisar o "status legal da Mulher" ao redor do mundo, a fim de melhor compreender as desigualdades que elas enfrentam e estar mais bem preparada para combatê-las. Ela é creditada por ser a mais proeminente e tenaz defensora da inclusão dos direitos da mulher na Carta, e sem seu trabalho as Nações Unidas provavelmente não teriam um mandato para proteger os direitos da mulher.
Em 1964, Lutz chefiou a delegação brasileira na 14ª Comissão Interamericana em Montevidéu. Além disso, na 15ª reunião anual da Comissão Interamericana de Mulheres, realizada em 1970, ela propôs a realização de um seminário dedicado a abordar os problemas específicos enfrentados pelas mulheres indígenas. Apesar de ter pouco mais de setenta anos durante esta etapa de sua vida, Lutz continuou a participar de conferências e a insistir na expansão dos direitos da mulher, incluindo a Conferência Mundial sobre a Mulher, 1975, na Cidade do México. Bertha Lutz faleceu no Rio de Janeiro em 16 de setembro de 1976, aos 84 anos.
Por: Jonathan Pena Castro
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