Quando falamos em Caos automaticamente pensamos em
desordem, algo que não possui padrão é imprevisível e completamente aleatório. Agora
pense nos eventos caóticos aplicados à vida. Uma forma interessante de
compreender como ela tem efeitos significativos é imaginar os fenômenos casuais
da vida e como um evento imprevisível - pequeno - pode ser capaz de mudar tudo.
Imagine que, no passado, você tenha perdido a oportunidade de fazer o Enem
porque o pneu do ônibus em que estava furou com um prego no meio do caminho. Isso
acabou fazendo com que não entrasse na tão sonhada universidade pública e, desconsolado,
decidiu então fazer uma particular. Para poder pagar o curso, meio período teve
que trabalhar enquanto que no outro, estudar. Todas as pessoas com quem você conviverá,
os amigos, os amores, os professores serão outros. No final, sua vida se
alterou por completo e tudo isso por causa de um prego no início da sequência de
eventos. É o mesmo caso do “efeito borboleta”, descrito em 1960 pelo meteorologista americano Edward Lorenz, em que segundo esse raciocínio, um
bater de borboletas no Brasil poderia depois de um tempo causar um tornado no Texas.
O bater de asas de uma simples borboleta pode ter grandes efeitos, como a produção de um Tornado |
O intrigante é que por trás dessa aleatoriedade do caos,
parece haver uma estranha ordem no meio dessa toda imprevisibilidade, com
fenômenos que se repetem num ritmo desordenado.
A vida, assim como muitos sistemas complexos, segundo os
matemáticos, têm tendência à organização, dando origem aos chamados sistemas auto
organizados criticamente. Como exemplos desses sistemas podemos considerar
os movimentos orogênicos da terra, os ecossistemas e os organismos. Uma
característica peculiar de todos eles, é que pequenas perturbações podem
produzir efeitos pequenos ou grandes. Não há como prever esses efeitos, mas a
repetição de elementos continuamente – hoje chamado de fractais, é
bastante observado na vida.
Em A, uma folha natural de xaxim e em B um fractal gerado por computador, resultando numa folha composta |
Na Biologia, os fractais estão presentes em muitos exemplos: o DNA de um ser vivo é composto de fractais - combinação de
quatro elementos repetidos milhares (ou milhões) de vezes. A repetição é uma
característica dos seres vivos, a começar pelo DNA e RNA, até características
anatômicas como coluna vertebral, intestino, esôfago, etc. Nos vertebrados e
anéis nos insetos e anelídeos ou estruturas anatômicas como braços de estrelas
do mar, membros de insetos e vertebrados ou ainda, folhas compostas, inflorescências
e infrutescências nos vegetais. Essa ausência de variação em escala e essa
repetição é uma característica dos sistemas caóticos (auto organizados
criticamente), e, portanto, de organismos, ecossistemas e outros sistemas citados
anteriormente.
Em termos biológicos, o que se conhece cientificamente na
origem da vida também foi regido pela Teoria do Caos, nos primórdios da Terra
com as moléculas orgânicas presentes na sopa primordial. Como sistemas
complexos, teriam a tendência de se auto organizarem e, inclusive se
reproduzirem, com a seleção natural agindo efetivamente quando a síntese de
peptídeos fosse comandada por moléculas capazes de se autoduplicar segundo
regras (no início sujeitas a muitos acidentes) do tipo que, hoje, se conhece
nos ácidos nucleicos.
Texto: Jonathan Pena Castro
Para saber mais:
Bak, P. & Chen, K. (1991) Self-organized
critically. Scientific American, 264 (1): 26 - 33
Jürgens, H.; Peitgen, H.O. & Saupe, D. (1990). The
language of fractals. Scientific American, 263 (2): 40 - 47.
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